Continuando a falar de trabalho e imigração, fiquei pensando nas famílias que se mudam de país em função de proposta de trabalho de apenas um dos membros. O mais comum que tenho visto, são mulheres que tinham a própria carreira e independência financeira, e acabam optando por sair do país para acompanhar os maridos, interrompendo assim, o fluxo da sua vida profissional.
Algo recorrente é que muitos países não estendem o visto de trabalho a familiares ou não há uma demanda de mercado para a profissão da esposa, além disso, há o fator idioma que pode ser um obstáculo, já que nem sempre todos os familiares falam a língua ou tem a fluência necessária para assumir um cargo no país de destino.
Essas condições acabam fazendo com que essas esposas fiquem em casa sem poder trabalhar e tenham que depender do marido por um longo tempo, até que tenham um visto para trabalhar ou mesmo que possam se adaptar ao mercado de trabalho e ao idioma do local em que estão. Se antes tinham seus salários para usarem conforme desejassem, torna-se comum ter que envolver o parceiro nas questões financeiras, das mais simples às mais complexas, indicando uma perda de autonomia.
Ninguém gosta de perder sua autonomia, principalmente se houve um momento anterior de maior liberdade. Há sentimentos de limitação, angústia pela perda de independência, incômodo por precisar receber dinheiro do marido, tristeza por não ter seu dia preenchido por sua atividade profissional mais e uma diminuição de seus papéis sociais. Se antes eram “a advogada”, “a professora”, “a gerente”, passam a ser vistas como a esposa de fulano ou a mãe das crianças, uma vez que não estão no mercado de trabalho mais. É normal que essas mulheres se dediquem mais à casa e à criação dos filhos nesse momento, o que pode ser outro fator de insatisfação, já que em nossa cultura esse não é um trabalho reconhecido ou valorizado. Não é raro alguém pensar que a rotina de quem fica em casa é mais fácil, porque a pessoa não teve que sair para “trabalhar o dia todo”.
Claro que há maridos que são parceiros e tentam aliviar essa angústia que as esposas sentem, mas a questão é um pouco mais individual e diz respeito à relação que essa mulher tem com o trabalho e os desejos que tem para a própria vida. Embora sim, haja um desejo comum pelos objetivos da família, há também o anseio pelo que é dela enquanto mulher, enquanto ser humano – e ela tem todo o direito de querer algo mais.
Mas o que fazer nesse cenário?
Não é uma resposta simples, já que muitos fatores podem influenciar essa questão. À parte de organizar as questões práticas de maneira que ajudem a sanar essa situação, o que tenho percebido como fonte de acolhimento para essas mulheres é a rede de apoio que encontram, normalmente, em outras mulheres que passam pela mesma situação. Poder trocar experiências, conversar, falar sobre angústias e frustrações com outras pessoas que compreendem “na pele” o que essa mulher está passando, pode ter um efeito terapêutico importante, trazendo um pouco de alívio e dando um ânimo para seguir com o dia a dia.
É fundamental que essas mulheres tenham a possibilidade e a liberdade de pensar na própria vida e fazer escolhas por si mesmas, não apenas pela família ou influenciadas por seus maridos. Independente da escolha e da direção, que seja algo que dê a sensação de realização e alegria em relação à própria história, ao próprio caminho.
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